04 agosto, 2007

Saneamento Básico, o Filme




O cinema brasileiro possui um trunfo que não é muito percebido. Há boas histórias a serem contadas, mas perde-se muito tempo, dinheiro e energia na tentativa de engajar a população em alguma causa ou apontar algum problema social brasileiro. Ainda assim, os bons filmes acontecem, com ainda alguma dificuldade, mas com qualidade. As melhores produções dos últimos 10 anos não apresentam um grau de impacto social muito grande. Infelizmente, ainda se produz pouco no país, e ainda em poucos lugares. Porto Alegre há muito tem a sua Casa de Cinema, e de lá sai ótimo cinema, e ótimos cineastas. Jorge Furtado é talvez o mais notório, especialmente por ser o autor do curta mais conhecido e assistido do Brasil, o altamente impactante Ilha das Flores. Mas também é dele alguns dos bons exemplos da última década, como O Homem que Copiava, que ele dirigiu, e Lisbela e o Prosioneiro, que ele ajudou a escrever.

E agora ele volta a Porto Alegre para filmar uma comédia sobre um problema social. Mas esse não é o ponto principal do filme, e sim a solução para o problema que a população arruma - utilizar a verba existente para a criação de um filme para, disfarçadamente, realizar uma obra de saneamento básico. Com um elenco de primeira, uma locação muito charmosa e cenas engraçadíssimas, Furtado nos faz rir e perceber, ao mesmo tempo, estereótipos brasileiros tão conhecidos, inclusive o do diretor de cinema megalomaníaco - no caso um editor de fitas de casamento cuja possibilidade de dirigir uma ficção sobre à cabeça.

Cinema de muito boa qualidade, com elementos muito simples. A escolha do sul para filmar faz com que a maioria dos brasileiros nem mesmo reconheça alguns códigos culturais, mas o que é importante nos toca, certamente. Sem ser chato nem piegas, Furtado nos aponta para algumas coisas muito sérias - mesmo que se dê risada em boa parte do filme. Talvez seja essa a melhor forma de, afinal de contas, tornar o cinema um pouco mais social.

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