26 janeiro, 2008

Desejo e Reparação (Atonement)




É muito comum que diretores de cinema - especialmente os bons - tenham suas marcas de estilo. Às vezes é uma certa preferência por elementos dos anos 70 e 80, como no caso de Quentin Tarantino; outras vezes são detalhes e formas de trabalhar o roteiro, como Wes Anderson. Joe Wright tem a sua marca, já visível em apenas dois longas de sucesso. Sua preferência é por histórias com personagens femininas fortes, ambientadas em um passado recente, utilizando poucos diálogos e fazendo da fotografia quase um personagem. Desejo e Reparação, seu filme mais recente, tem a marca Wright.

O mote principal poderia nos levar a uma produção romântica blasé que seria pouco mais que tola. O tratamento do diretor - e também do roteirista Christopher Hampton - leva-nos a um envolvente drama com pinceladas de suspense. A fotografia é primorosa. Poucas vezes no cinema recente se viu uma utilização tão soberba da luz - ou uma ambientação tão cuidadosa, para abrangermos também o cenário e o figurino. Uma outra marca do diretor, o uso de uma cena particularmente longa que percorre todo um cenário deixando por alguns instantes os personagens de lado, é fantástica. A exemplo de Orgulho e Preconceito, seu filme anterior, essa cena é também a que determina o "início do fim", o ponto do qual devemos prestar especial atenção.

Wright é também excelente com seu elenco. A jovem Saoirse Ronan, que interpreta a imaginativa Briony quando criança, atua tão bem que podemos perceber a mesma personagem quando a excelente Vanessa Redgrave a mostra já bem mais velha. Uma pena que o mesmo não se pode dizer de Ramola Garai, que interpreta a personagem aos 18, e é a atuação mais fraca da fita. Keira Knightley e James McAvoy estão também ambos muito bem.

O filme é excelente e merece pouquíssimas ressalvas. Suas 7 indicações ao Oscar foram mais que merecidas, incluindo a atuação excelente de Saoirse e, claro, a fotografia, que é o ponto alto. Claro que há quem vá dizer que o filme se parece muito com o anterior do diretor, ou que a história não passa de um romance bobo. Mas é exatamente nesse ponto que precisamos defender o que ainda podemos chamar de sétima arte: a utilização inteligente e hábil dos aspectos particulares de uma linguagem é o que faz de Desejo e Reparação um deleite para os sentidos.

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