07 fevereiro, 2008

Piaf - Um Hino Ao Amor (La Môme)




Quando se decide filmar uma biografia, há que se escolher apenas alguns aspectos do seu retratado, para que o resultado não seja uma fita demasiado longa. Essa característica já gerou muitos descontentamentos com as partes que ficaram de fora em algumas histórias - sem falar nas licenças poéticas que sempre são feitas. Talvez pelo zelo dos críticos ter diminuído, talvez pela qualidade das produções que aumentou, o gênero tem levado à telona belíssimas peças. Piaf - Um Hino Ao Amor confirma essa boa onda. Sua vida, desconhecida para a maioria, é praticamente uma seqüência de pequenas tragédias, entre as quais ela demonstra e lapida sua magnífica voz.

O filme é de uma beleza primorosa - e por isso não entendam que ele é bonito o tempo todo. As caracterizações, tanto do espaço quanto das pessoas, é fantástica, como também a transição entre elas. Nada percebemos na dificuldade que deve ser mostrar um pedaço de uma história em um bordel na Normandia, e outro em um hotel de luxo em Nova York. O cuidado nos detalhes, na excelente maquiagem que envelhece aos poucos os personagens, é a marca de um filme bem trabalhado. Seu diretor, Olivier Dahan, é pouco conhecido aqui - talvez alguns tenham assistido à continuação de Rios Vermelhos, um filme de ação francês. É quase certo que veremos seu nome novamente envolvido em alguma grande produção.

Um dos detalhes interessantes é a seqüência de atrizes que interpretam Edith Piah ao longo dos anos. Da pequena Manon Chevalier, passando pela jovem Pauline Burlet, até chegar à excelente Marion Cotillard - respectivamente Piaf aos 5, 10 e adulta - todas apresentam uma quase inacreditável semelhança entre si, ajudando ainda mais para que entremos no ambiente e percebamos Piaf crescendo. O trabalho de Marion Cotillard é excepcional. Poucas vezes se viu uma atriz aproveitar tão bem a maquiagem, e utilizar a linguagem corporal com tamanha habilidade. Antes de ver os créditos, pensava que a Piaf jovem adulta e a madura eram atrizes diferentes, tal o poder da interpretação que atriz francesa apresentou. É tal que conseguiu quebrar o fechado círculo norte-americano e ser indicada a melhor atriz no Oscar 2008.

Seja você um conhecedor da cantora ou não, amante da música francesa ou não, Piaf deve ser visto. Não apenas é uma belíssima peça cinematográfica, que conta uma história muito interessante, mas é também uma chance rara de conhecer a força do cinema europeu em uma produção que consegue unir todo o aspecto do cinema-arte que o velho mundo gosta com os filmes comerciais que o novo mundo - Brasil incluído - acostumou-se. Imperdível.

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