27 agosto, 2009

Se Beber, Não Case! (The Hangover)




Fazer comédias escrachadas pode parecer fácil. Mas não é só pegar algumas sequências absurdas e colocá-las uma depois da outra, existe o famoso e famigerado timing, que é tudo nas comédias, especialmente nas desse tipo. Se Beber, Não Case consegue isso com maestria, pelas mãos de Todd Phillips, que já demonstrava essa tendência em Dias Incríveis. Mas este supera todos os seus anteriores - e por isso mesmo tem feito sucesso mundo afora.

É interessante pensar por onde passou a cabeça dos roteiristas Jon Lucas e Scott Moore para imaginar o cenário que move o filme. Logo após a introdução, é mais ou menos assim: duas coisas a menos - o noivo e um dente - e várias coisas a mais, entre uma galinha, um bebê, um tigre, um gangster chinês gay e Mike Tyson. E o mais incrível é que, no decorrer da história, tudo passa a fazer sentido. Ou quase tudo.

O elenco parte de alguns rostos já conhecidos do segundo time, como Bradley Cooper e Justin Bartha, com outros nem tanto como Ed Helms e o impagável Zach Galifianakis, no papel que é provavelmente o mais engraçado no filme. Juntando com algumas ótimas referências aqui e ali, e algumas participações especiais, o trabalho dos três principais - Justin Bartha é o noivo desaparecido e participa pouco - essa mistura improvável foi muito bem cozinhada.

Não é uma comédia inteligente, mas é uma comédia pastelão como pouco se vê hoje em dia, daquelas capazes de usar alguns pontos mais fortes sem abusar, e que nos faz gargalhar mais forte a cada novo tropeço da história. Por isso, mesmo aqueles mais ranzinzas e adeptos puristas do "cinema sério" devem se aventurar, e se divertir.

26 agosto, 2009

[DVD] A Vida no Paraíso (Så som i himmelen)









A Suécia não é um país do qual você se lembre ter saído algum filme daqueles memoráveis. Então, quando se sabe que há algum bom filme de lá, vale a pena ver do que se trata. A Vida no Paraíso parte de um mote bastante simples e até recorrente: uma pessoa famosa que, sentindo-se perdida, resolve voltar às suas origens, quase sempre simples, e com isso reconectar-se consigo mesmo. Neste caso é um maestro renomado que volta à sua pequena cidade, e lá reencontra o amor à música em meio a um coral de pouco talentosos moradores.

Embora simples, o tema é tratado com muito cuidado, mostrando claramente o que se passa na cabeça do maestro Daniel Daréus e o impacto que ele causa na sua cidade natal. Mas é principalmente sobre o impacto que a cidade e seus habitantes causam nele, numa talentosa inversão do gênero "filme de professor" que não foca nos alunos - no caso, o coral que ele conduz. Muito bem interpretado por Michael Nyqvist, Daniel recupera aos poucos a autoconfiança e nos lembra que, na maioria das vezes, o equilíbrio é o mais importante.

Como tantas pequenas pérolas cinematográficas, passou batido nos cinemas daqui em 2005, apesar de ter sido indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O diretor, Kay Pollak, não é conhecido e não realizou nenhum outro depois deste. Mas conseguiu aqui, com aquela simplicidade que só é possível através de muito trabalho, passar uma bela mensagem.

Agora também em DVD!






Não tenho conseguido ir tanto ao cinema quanto antes, mas tenho assistido bastante em casa. Então, para não perder os meus já poucos leitores - 12 em média no último mês segundo o Google Analytics - resolvi colocar no Parada Crítica opiniões também sobre os filmes que assisto em DVD. Assim quem sabe volto aos bons tempos de média 20...

Pra recuperar o tempo perdido, vou colocar aos poucos as críticas de DVDs dos últimos quatro meses, então voltem com frequência!

08 agosto, 2009

À Deriva




Vez por outra somos agraciados com cinema brasileiro bem feito. E não me refiro apenas às qualidades que fazem os filmes tornarem-se campeões de bilheteria - na verdade, é quase o contrário. Heitor Dhalia nos agraciou em 2007 com o histriônico e engraçado O Cheiro do Ralo. Em seu novo À Deriva ele nos agracia com uma história que agrada os cinéfilos mais ferrenhos, e também toca qualquer um que se interesse em experimentá-lo. Para fazê-lo, buscou elementos frugais, daqueles que poderiam facilmente permear um episódio de Malhação. Mas não se enganem, é justamente da capacidade de pegar esse mote simples e transformá-lo em um grande filme que surgem as várias qualidades desta produção.

Valendo-se das belas paisagens de Búzios lindamente fotografadas por Ricardo Della Rosa, e pela ambientação remetendo ao início dos anos 80, Dhalia nos revela o mundo pelos olhos de uma garota entrando na adolescência, e encarando aventuras e conflitos talvez maiores do que esteja preparada. A facilidade com que somos levados por Filipa, quase sentindo as suas angústias e alegrias, revela a mão de um diretor que merece ser notado.

A personagem principal é interpretada pela estreante Laura Neiva. Como uma marca da nova geração, ela foi selecionada pelo Orkut, sem nenhuma referência de atuação. É injusto dizer que ela sai-se bem no papel por interpretar, basicamente, a si mesma. Há mesmo nas falhas de interpretação de Laura algo que indica que pode estar ali um talento a ser trabalhado. Tanto que ela não tem dificuldades de contracenar com a experiente Débora Bloch e o internacional Vincent Cassel. A sua trupe de amigos no filme também corrobora esse talento; há alguns claramente treinados no ofício, enquanto outros são tão novos quanto ela.

À Deriva, como Não Por Acaso, é um filme que poderia ter "acontecido" facilmente em algum lugar da Europa. E isso é um sinal de um cinema amadurecido o bastante para saber que pode contar uma boa história brasileira sem ter que apelar para as já vencidas paisagens áridas do Nordeste ou as mazelas urbanas. Provavelmente não vai ser um sucesso de público - nós brasileiros ainda estamos, infelizmente, mais acostumados às facilidades do cinema norte-americano e seus clones - mas vai conquistar qualquer um que abra os olhos e a cabeça para assisti-lo.