28 setembro, 2009

Diário Proibido (Diario de una Ninfómana)




Em 1999, uma terapeuta decide, por curiosidade e em busca de auto-conhecimento, trabalhar como prostituta. Isso é real, embora pareça mote de um filme. A terapeuta chama-se Valerie Tasso, e depois de um livro sobre as experiências como prostituta, entre outros, é hoje uma respeitada escritora. E o tal livro acabou inspirando uma obra cinematográfica, Diário Proibido - versão brasileira do título original Diário de uma Ninfomaníaca.

Uma coisa tem que ficar clara: um filme com a palavra "ninfomaníaca" no título terá, necessariamente, muitas cenas de sexo e nudez. Mas se você é um adolescente em busca de algo próximo do que passa nos canais de filmes na TV paga tarde da noite, não entre. Aqui o que temos são cenas bem trabalhadas para encher a tela do assunto em questão mas fugir habilmente da vulgaridade. Christian Molina, um nada conhecido diretor europeu, merece alguns pontos por isso.

A história é bem contada pela protagonista Val, a bela Belén Fabra, que também foge do esteriótipo das mulheres que se esperaria ver em cenas tórridas, com seus trinta e poucos anos e poucas curvas - mas não por isso menos bela, e esbanjando sensualidade no seu olhar apaixonante. Do seu ponto de vista, vamos da incompreensão com sua própria condição ao extremo de tentar usá-la para algum proveito, e por fim à compreensão.

Não fosse o ponto central da trama, um tanto forte, seria como uma fábula moderna, uma versão da eterna busca por si próprio, bem contada. Há alguns detalhes que poderiam ser melhor arranjados, mas é uma boa surpresa nesta entressafra recheada de bobagens das salas de cinema.

26 setembro, 2009

A Verdade Nua e Crua (The Ugly Truth)



Junte os ingredientes certos para uma comédia romântica e você pode ter uma peça surpreendentemente boa, como Harry e Sally ou Notting Hill. Mas se você se preocupar apenas em fazer uma colcha de retalhos de outras produções, você terá só mais uma comédia romântica. E é isso que temos em A Verdade Nua e Crua. Aqui, Robert Luketic - responsável pelo honesto Quebrando a Banca - e sua roteirista, a estreante Nicole Eastman, apenas pegaram várias situações já usadas e fizeram um pequeno update.

O casal principal tem um rosto mais ou menos conhecido, Katherine Heigl, fazendo par com o novo queridinho das telas, o überman Gerard Butler. Os dois estão apenas bons em seus papéis, como o resto do elenco. Há a fiel assistente, a cena de orgasmo em lugar público - que mistura o restaurante de Harry e Sally com a reunião de Em Busca do Prazer - e a sequência de eventos típica do gênero.

Sim, você já sabe o final da história, e o meio não chega a ser nenhuma surpresa também. Há, claro, situações engraçadas, e um ou outro diálogo promissos, mas pouco além disso. É um filme típico do período entre temporadas, um passatempo para diretores, atores e público sem qualquer pretensão. Felizmente, há pouco o que errar em se tratando de comédias românticas.

13 setembro, 2009

O Sequestro do Metrô 123 (The Taking of Pelham 123)



As primeiras notícias que apareceram sobre o último filme de Tony Scott foram que ele se considerava um "pintor de cenas", orgulhoso pela forma como pensava no filme como uma peça visual. Confesso que torci o nariz para essas declarações, e que depois fui obrigado a admitir que, sim, é um filme muito bonito. A fotografia é de uma beleza rara em filmes e suspense/ação como este, com tomadas em profundidade e um cuidado com o código de cor de cada ambiente que não se vê muito por aí.

Bem, e praticamente é só isso. O roteiro é apenas bom o suficiente para chegar até o final com alguma expectativa, e as atuações, apesar dos grandes nomes envolvidos, são só boas como se espera de artistas como Denzel Washington, John Travolta e John Turturro, entre outros bons atores. E olha que é um gênero que Scott entende bem. Ele é responsável por alguns filmes que mesmo quem nunca viu sabe do que se trata, como Top Gun, Dias de Trovão e Inimigo de Estado, sem falar na participação no projeto The Hire da BMW com o segmento Beat The Devil.

Este não vai entrar para o rol das grandes produções do irmão de outro famoso Scott, o Ridley. Vai agradar mais os adolescentes e homens interessados em ação do que quaisquer outros.

12 setembro, 2009

Amantes (Two Lovers)




Amantes teve, para o bem ou para o mal, uma publicidade inusitada: Joaquin Phoenix, o protagonista, supostamente abandonou a carreira de ator para tornar-se um ser estranho que mistura um lacônico barbudo trajado a la Blues Brothers e, pasmem, rapper. O quanto isso é real ou uma jogada para um filme próximo, ninguém sabe ainda. Mas o fato é que foi assim que ele compareceu - quando apareceu - aos eventos de lançamento do filme. Que aqui, chegou tarde, bem tarde, quase um ano depois de sair lá fora - quem fez alguma viagem internacional pode assisti-lo no avião antes de vir para os nossos cinemas.

Faltas de explicações e bizarrices comportamentais à parte, é um filme que merece uma olhada pelos amantes do cinema. Phoenix está ótimo, talvez no seu melhor papel, medindo com habilidade a timidez e estranheza do seu personagem, e ditando o ritmo das cenas. Gwineth Paltrow e Vinessa Shaw estão ambas muito bem nos papéis das mulheres que dividem o pensamento de Leonard. Participações especiais como a e Isabela Rosselini são uma pitadinha de sabor à mais.

Bem trabalhado tecnicamente, Amantes mantém um bom ritmo, só vez por outra tropeçando sem muito problema. O diretor e roteirista James Gray foge do típico cinema de autor - ele escreveu e dirigiu todos os seus quatro filmes até agora - fazendo uma peça capaz de agradar cinéfilos e aqueles que procuram apenas uma boa diversão. Esperemos que esta fase de Phoenix passe logo, afinal Gray gosta muito de trabalhar com ele - esteve em três das suas produções. Fácil de ver e de gostar, Amantes merece uma visita.

05 setembro, 2009

Up - Altas Aventuras (Up)




O décimo longa metragem da Pixar, Up - que no Brasil recebeu o sobrenome "Altas Aventuras", é o primeiro do melhor estúdio de animação por computador a usar a tecnologia de exibição em 3D. É também o segundo dirigido por Peter Docter, responsável por Monstros S.A., e o segundo a ter personagens humanos como protagonistas. Como prova da soberania da Pixar, foi a primeira animação, independente de estilo, a abrir o conceituado festival de Cannes.

Up é uma história bastante cativante, mas ao mesmo tempo bastante complexa - apesar de ser bem mais leve e infantil que os dois últimos do estúdio, Rattaouille e Wall-E. Parte de um mote bastante inusitado: o Sr. Fredricksen resolve realizar o desejo da sua falecida esposa e viajar para a América do Sul. A sequência de abertura que mostra como ele e sua Ellie se conheceram, cresceram, casaram e todos as pequenas alegrias e infortúnios da vida é belíssima, uma abertura digna de qualquer filme "sério". Com sua modelagem sempre belíssima, aliada à filtros virtuais que mostram essas primeiras cenas como um filme Super8, já nos primeiros minutos a Pixar dá o seu recado. O que deixa os restantes para muita aventura e diversão.

Infelizmente, é preciso dizer, a qualidade da profundidade que se espera na exibição 3D não é muito bem utilizada, uma pena, especialmente pela expectativa que é gerada pela utilização da tecnologia pela Pixar. Mas isso não atrapalha tanto. Como sempre, os personagens são muito bem trabalhados e muito bem aproveitados, e o roteiro é muito bem escrito, com vários ótimos momentos e diálogos. Aqui no Brasil temos a sorte de ter a voz de Fredricksen dublada por Chico Anísio, o que ajuda bastante.

Apesar do que se anda dizendo, não é o melhor filme da Pixar - título que, para este crítico, continua justamente entre os dois anteriores. Mas, ainda assim, é ótimo, daqueles que vamos guardar alguns trechos e frases para sempre - especialmente os ótimos momentos do cão Doug. E, é preciso também dizer, qualquer um que se encanta com os animais falantes engraçados que são praticamente padrão nos outros estúdios, terá aqui uma riqueza que eles ainda não conseguem alcançar. Para rir e se divertir muito, qualquer que seja a sua idade.

02 setembro, 2009

Os Normais 2




Quando o primeiro Os Normais saiu, em 2003, o diretor João Alvarenga Jr. aproveitou para aplicar todos os palavrões que caberiam tão bem à série mas não eram permitidos. A história contava o antes da série, como Vani e Rui se conheceram, usava alguns artifícios interessantes e era suficientemente engraçada. Seis anos depois, a série há muito terminada, vem a sequência. Pode soar estranho, mas parece que os personagens esperaram todo esse tempo e passaram por todas aquelas etapas para culminar aqui. Muito melhor do que o primeiro, e fazendo tudo que não era permitido na série.

Não que a história seja em si melhor. Na verdade, quase não há história, mas uma série se situações hilárias em uma sucessão bem arranjada, tudo no ponto para tirar do público risadas gostosas quase de minuto em minuto. É tanto que, se a sala estiver cheia como tem estado, você vai certamente perder alguns diálogos, sobrepujados pela gargalhada longa da cena anterior. E não há tema melhor para isso que sexo, bem colocado. E com duplo sentido.

Nada há a dizer das atuações de Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães. Absolutamente confortáveis nos papéis, eles estão ótimos como estão em praticamente tudo que fazem. E como a história roda em torno deles, o elenco de apoio pode só se divertir também, o que sempre ajuda. As companheiras de banheiro de Vani em uma das cenas iniciais são prova disso. Muitos rostos desconhecidos ao lado de alguns pouco conhecidos, e todas se saem bem. Participações muito especiais de Daniel Dantas e Cláudia Raia são o complemento certo.

Na linha do previamente comentado Se Beber, Não Case, Os Normais 2 é diversão das mais despretensiosas, em bom português e com tudo o que tem direito. Mesmo para quem não conheceu a série ou não viu o primeiro, compensa, e muito.