07 fevereiro, 2011

Cisne Negro (Black Swan)




Darren Aronofsky gosta de filmes fortes, no limite do perturbador. Sua última produção, o excelente O Lutador, mergulha profundamente em um falido e caído personagem. Agora, ele faz o contrário, pegando uma bailarina que ganha o papel da sua vida. Mas o faz com o mesmo olhar visceral e destituído de benesses. Nos subúrbios de um condomínio de trailers ou no aparente glamour de uma grande companhia de balé de Nova York, o que realmente interessa é o personagem retratado.

Natalie Portman dá vida à Nina, a jovem que ganha seu grande papel na montagem do clássico O Lago dos Cisnes. Sua carreira sempre mostrou que é uma atriz bastante capaz, mas finalmente conseguimos ter noção da dimensão do seu talento. Ela consegue dar veracidade à tímida e contida Nina com a mesma destreza com que a faz soltar em momentos chave seu lado negro. Li algumas opiniões dizendo que Mila Kunis está, aqui, melhor que Portman. Bobagem. No papel da bem resolvida Lily, Kunis está bem, sim, mas não precisou expor mais que sua beleza. Vincent Cassel, como o diretor da companhia, mostra porque a escola europeia de atores sempre gerará ótimos frutos.

Cisne Negro, como outros de Aronofsky, não é fácil de ser assistido. Sem sustos e com efeitos especials que são realmente apenas suporte de cena, ele nos transporta com tensão quase ininterrupta do início ao fim da fita. Auxiliado por uma trilha sonora impressionante, que a exemplo do A Origem de Christopher Nolan distorce e altera a música de Tchaikovsky ao ponto de deixá-la irreconhecível.

Dos quatro indicados ao Oscar de Melhor Filme que assisti, este é o único que faz jus a uma disputa séria com A Origem - apesar de saber que nenhum dos dois está realmente no páreo, que ficará com A Rede Social ou O Discurso do Rei. Cisne Negro é bom cinema naquilo que ele tem de melhor, colocado na dose certa na tela, contando a história só até onde ela deve ser contada. Imperdível.

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