24 outubro, 2011

De Títulos e Traduções

 


Normalmente, as pessoas que gostam muito de filmes gostam de assisti-los na sua versão original. Isso significa o formato da imagem e o som original, na língua em que foi filmado. Ao contrário do que muitos pensam, não é só para tirar onda de que sabe falar inglês. Eu gosto de assistir sempre na língua original, seja ela sueco, japonês, espanhol, russo, alemão, italiano - para ficar só nos países com maior número de boas produções cujos idiomas não entendo nada. Eu acho que o som é parte da obra cinematográfica, e que tanto o diretor quanto o ator trabalharam muito, repetindo e refazendo cenas, para que aquele diálogo tivesse uma nuance única, e isso em qualquer língua que seja. Mas entendo que há pessoas - muitas, aliás - que preferem filmes dublados, e o meu xará Thiago Borbolla fez um excelente post sobre isso, do qual concordo com quase tudo. O que não concordo é com a qualidade cada vez pior das traduções brasileiras - e aí entram não só as dublagens como também as legendas e os títulos.

Eu sei que o trabalho não é fácil. Sei que há certos aspectos culturais em alguns diálogos e títulos que são quase intraduzíveis. Mas há, também, muito erro que poderia ser evitado. Como eu sei que o nome de uma obra muitas vezes já dá o tom - afinal, não adianta, todos nós julgamos pela capa, ou, neste caso, pelo poster - e não confiando nos tradutores, costumo sempre procurar o nome original. Pois me deparei há algumas semanas com um exemplo de tradução de título que não apenas é ruim, como joga contra a obra.

O filme It’s Kind of a Funny Story conta o caso de um adolescente com pensamentos suicidas que decide se internar em um hospital psiquiátrico. É bem filmado, tem boas atuações, ótimos diálogos, e aquele ar de cinema alternativo que os cinéfilos adoram. Mas a distribuidora brasileira resolveu chamá-lo no Brasil de Se Enlouquecer, Não Se Apaixone. O título lembra muito outro filme famoso, certo? Pois a presença de Zack Galifianakis é a única justificativa para a aberração dessa tradução. Seja sincero: você se interessaria por um filme chamado Se Enlouquecer, Não Se Apaixone? Eu não. Mas ainda bem que eu procurei o nome original. Tive a oportunidade de assistir uma produção excelente, que não chegou às salas brasileiras, e graças à tradução ruim poderia ter passado despercebida por mim - como, tenho certeza, passou por muitos.

Este é um caso em que a tradução não é tão simples. Não ficaria muito mais atrativo se o nome brasileiro fosse É Uma História Um Tanto Engraçada. Mas há opções melhores que a escolhida, sem dúvida. Às vezes, é até melhor deixar o título pouco explicado. Vai que o filme tem uma continuação que brinca com o nome original, como Ocean’s Eleven e Meet The Parents. Onze Homens e Um Segredo até é um nome legal, mas Treze Homens e um Novo Segredo é forçar a barra. E o que dizer de Entrando Numa Fria Maior Ainda Com A Família? Triste.

E parece que há um prazer especial em ter que colocar algo em português. Quando o nome não precisa de tradução - por ser o nome de um lugar ou de uma pessoa - insistem em colocar um subtítulo, quase sempre ridículo. Pulp Fiction - Tempo de Violência, Erin Brocovich - Uma Mulher de Talento, Moulin Rouge - Amor em Vermelho e, o pior de todos, Taxi Driver - Motorista de Taxi. É, foi assim que o filme foi lançado no Brasil. Agora pense que você é um diretor que faz um filme de ação/suspense em que algo acontece mas você não conta nem no título, nem na sinopse, nem nos trailers, deixando toda a emoção para o momento do filme em si. Pois eis que chega uma distribuidora brasileira e estraga toda a sua estratégia ao colocar um infame subtítulo desnecessário: Cloverfield - Monstro. Pior que isso, só quando o título nacional é algo que o filme diz explicitamente que não é o que acontece, como Amnésia, péssimo nome brasileiro do excelente Memento.

Então, tradutores e distribuidoras, por favor, pensem bem antes de decidirem por um título nacional. Pensem na obra, no trabalho dos cineastas e, especialmente, no público que vocês podem atrair, ou não, com um título ruim.

Um comentário:

Sergio Peixoto Junior disse...

Infelizmente, devem achar que decidimos assistir a um filme pelo título... não levando em conta, atores, diretores, roteiristas, já tão conhecidos por nós.
Só pra citar um exemplo de "violência" na tradução, no trailer do filme "A Árvore da Vida" (The Tree of Life), escutamos a frase "Father. Mother. You are always WRESTLING inside of me" (com a legenda corretamente traduzida). Porém na tv, vemos o mesmo trailer com a legenda traduzindo o seguinte: "...Vocês estão sempre PRESENTES dentro de mim". Isso não é apenas uma troca de palavras, mas altera e muito o sentido e o drama contidos na fala original... uma pena.