28 janeiro, 2012

Medianeras - Buenos Aires na era do amor virtual (Medianeras)

Quem acompanha o cinema fora das muralhas hollywoodianas provavelmente conhece e admira as produções argentinas. Comédias bem trabalhadas, dramas bem escritos, sempre histórias profundamente baseadas em roteiro e personagens, com uma grande influência europeia. Não sei como anda o ritmo de produção por lá hoje por conta da crise deles, mas historicamente eles produzem bem mais que nós, e já tem um mercado bem avançado, mesmo para o cinema alternativo. Da última vez que li uma pesquisa sobre o assunto, a proporção de poltronas em cinemas em relação à população deles era mais que três vezes maior que a nossa. Um cenário propício, salvo a tal crise, para produções interessantes.

Que, como sempre, chegam atrasado aqui no vizinho Brasil - ou nem chegam, na maioria das vezes. Medianeras, o longa de estreia do cineasta Gustavo Taretto, foi lançado em setembro passado, nos festivais daqui, e agora apareceu em uma sala de um complexo alternativo. Vale à pena. Taretto, que escreveu, produziu e dirigiu o longa, mostra um olhar certeiro nas pequenas coisas que deixamos passar, mas que reconhecemos facilmente. O monólogo inicial, que relaciona a arquitetura de Buenos Aires com o estado de espírito da população, poderia ter sido dita por um paulista ou por um carioca, mas encontra aprovação em qualquer um que já visitou uma grande cidade brasileira.

A história gira em torno de Martín e Mariana, duas jovens ilhas cercadas de gente por todos os lados, separados pelas respectivas paredes inúteis dos seus prédios - as medianeras do título. À sua maneira, cada um conta como vive, e como chegaram àquela situação, em um vai e vem de narrativas em que eles sempre se encontram, sem se conhecer e sem saber que o outro esteve lá. Ao contrário do que faria uma comédia romântica de Hollywood, esses encontros são sutis e nunca dão em nada. Suas respectivas visões da cidade, e dos micromundos que são seus apartamentos, é tão complementar quanto oposta. E por isso mesmo o vai e vem de narrativas torna-se um diálogo curiosamente feito de monólogos. É isto, e a atuação dos protagonistas Javier Drolas e Pilar López Ayala, ele um novato, ela uma jovem veterana das telonas, tendo inclusive estrelado a produção hispano-brasileira Lope.

Medianeiras é daqueles filmes feitos com pouquíssimos ingredientes, mas muito, muito bem aproveitados. Divertido e tocante, leve e agradável. Cinema pela beleza de se contar bem uma história interessante. Como sempre recomendo nesses casos, se você tem a sorte de tê-lo passando em um cinema por perto, vá assistir. Se não, torça para que chege logo às locadoras. Muito recomendado.

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