22 fevereiro, 2012

A Árvore do Amor (Shan zha shu zhi lian)

Lembro-me de ter assistido, ainda criança, a um filme excelente chamado Lanternas Vermelhas. Nem sei como esse filme foi parar nos cinemas em Cuiabá, que à época contava menos salas de cinema que dedos em uma mão. Pensando bem, acho que assisti no Rio de Janeiro, em uma das férias que costumava passar lá. Faz mais sentido. Já amava o cinema no longínquo 1992, mas ainda não tinha conhecimento e experiência suficientes para saber o que me fascinava em algumas obras. Nesse caso, além da língua nada familiar, acredito que o ritmo diferente e os detalhes de fotografia tenham chamado a minha atenção. Só bem mais tarde, mais de 10 anos mais tarde, fui assistiu outro filme do diretor Yimou Zhang. Dois, na verdade. Sabe-se lá por que, mas Herói, de 2002, e O Clã das Adagas Voadoras, de 2004, chegaram juntos aos cinemas brasileiros em 2005. E aí eu já entendia um pouco mais. É o tal do detalhe que Zhang trabalha como poucos. Herói é um espetáculo visual, com cenas deslumbrantes que incluíram façanhas como coletar, catalogar e separar por tom mais de um milhão de folhas amarelas. O Clã é um espetáculo auditivo, imagino que os chineses cegos deleitem-se com um filme que não podem ver. Não tive ainda a oportunidade de assistir A Maldição da Flor Dourada, que dizem ser também muito bom. Mas pude riscar da minha lista uma das suas últimas produções, A Árvore da Vida.

Mais que um belo filme, Zhang faz aqui um retrato bastante competente da revolução cultural chinesa, entremeando-a com uma comovente história de amor. E, como sempre, manteve sua marca pessoal de uma estética impecável. A fotografia, belíssima, dessaturada um ou dois tons, e as interrupções com as “fichas narrativas” fazem do filme uma espécie e livro de histórias ilustrado, um conto de fadas. E, ao contrário de Herói e O Clã, aqui tudo se apoia no roteiro. E o roteiro se apoia na inocência de um amor proibido, mas irresistível.

O casal principal, formado por Dongyu Zhou e Shawn Dou, está excelente. A interpretação de Zhou como a jovem Jing é fantástica, com trejeitos e detalhes típicos de uma adolescente temerosa de quase tudo, mas que ainda assim é incapaz de não se entregar ao seu sentimento. As muitas cenas sem diálogo são uma demonstração não apenas da força do roteiro, mas da escolha acertada do elenco.

O ritmo diferente, e a edição não linear sem conexões óbvias tornam o filme ainda mais atraente - é sempre bom experimentar estilos diferentes do que estamos acostumados. Depois de estrear no Brasil nos festivais de cinema, infelizmente nunca fez a transição para as salas comerciais, mas deve chegar às locadoras em breve. Coloque na sua lista.

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