13 março, 2012

Poder Sem Limites (Chronicle)

O estilo é conhecido: o filme todo acontece como se tivesse sido montado a partir de gravações autênticas, seja de um dos personagens seja de câmeras de segurança ou programas jornalísticos de TV. A Bruxa de Blair fez isso com maestria, e diversos outros usaram o mesmo truque. Mas o que faz de Chronicle - na tradução estraga-prazeres Poder Sem Limites - um filme excelente não é isso. O mais importante aqui é o mergulho profundo na mente de um adolescente socialmente rejeitado.

Josh Trank, o diretor, e Max Landis, o roteirista, ambos estreando em longas, foram habilidosos em tratar a história fantástica de três garotos que ganham poderes da forma mais difícil possível: como se fosse realmente verdade. Eles não se preocupam em explicar como eles adquirem a telecinésia - nada além deles terem encontrado um buraco no chão com um estranho cristal brilhante - nem mesmo mostram os personagens descobrindo os próprios poderes.

Boa parte da história é contada do ponto de vista da câmera de Andrew, adolescente tímido de uma familia problemática - a mãe doente terminal e o pai um ex-bombeiro alcóolatra. Por isso podemos ver porque é nele que os poderes adquirem todo o seu potencial. Andrew está acostumado a passar muito tempo sozinho, à se concentrar em si mesmo. Mas também está cansado de ser o saco de pancadas do mundo. Seu primo, Matt, e o novo amigo Steve estão na ponta da pirâmide social da High School norte-americana: inteligentes, populares e equilibrados, são o extremo oposto de Andrew. Escolher atores desconhecidos para os papéis ajuda na ilusão de um evento real, apesar de inacreditável. E os jovens Dane DeHaan, Alex Russel e Michael B. Jordan conseguem mostrar atuações convincentes.

Há várias cenas marcantes, em que a construção dos personagens é mostrada com eficiência. O crescimento do aspecto sinistro de Andrew é bem marcado, e cenas aparentemente banais como ele “desmontando” uma aranha são muito fortes. Mas há também momentos em que, para manter-se fiel à opção de usar apenas “imagens reais” houve um certo apelo a soluções pouco críveis. Na balança, ganham as vantagens, incluindo o bom uso de referências, entre as mais claras a animação japonesa Akira. Apesar das críticas não terem sido muito favoráveis, e apesar da mistura de poderes e adolescentes em crise afastar parte do público, este filme de heróis consegue entrar na alma humana bem mais que a maioria dos seus pares. Sem usar grandes reviravoltas, sem conspirações, apenas um rapaz problemático aproveitando uma chance bastante atípica de arrumar seu lugar no mundo.

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