24 março, 2012

Raul Seixas: O início, o fim e o meio

Se você frequentou algum local com música ao vivo nos últimos 20 anos, é bastante provável que tenha presenciado a cena. Em algum momento da apresentação, invariavelmente, alguém vai gritar “toca Raul!”, e provavelmente será seguido por alguns aplausos. E se você é brasileiro e tem um mínimo de conhecimento sobre seu próprio país, você sabe de quem estão falando. Pode ser que só conheça uma música, mas sabe. O soteropolitano que, quando criança, queria ser Elvis Presley, não é uma unanimidade em termos de gosto musical, mas é também impossível de ignorar. O documentário de Walter Carvalho destrincha o mito Raul Seixas com cuidado. Passaram-se 20 anos da sua morte, então por que só agora um filme sobre ele?

A resposta está no próprio filme. Um personagem complexo, recheado de ligações com pessoas em diversos lugares do Brasil e do mundo - só entre esposas e companheiras são cinco, três delas nos Estados Unidos. Polêmicas também não faltaram ao artista. Da contracultura esfregada na cara da ditadura brasileira às ligações com seitas estranhas, do sucesso ao ostracismo, do álcool e cigarros às drogas, Carvalho não poupa os detalhes, todos eles importantíssimos para entender ao menos a ponta do iceberg.

A admiração por Raul é tanta que, face ao que conhecemos através da sua música, todas as atribuladas partes da sua vida parecem justificáveis dentro da sua personalidade. Como uma de suas músicas mais provocativas diz, “faze o que tu queres pois é tudo da lei”. Ele viveu essa realidade intensamente, experimentando e sendo experimentado.

O formato do documentário mistura uma pequena narrativa cronológica com opiniões e depoimentos dos famosos e não famosos que cruzaram com ele. Interessante para todos, desde aqueles que não conhecem nada, até aqueles que sabem muito da sua história. Na minha modesta opinião, ele não apenas alcançou, como superou, seu sonho de criança. Elvis Presley, com todos os méritos que possui, é um sucesso fabricado, comandado pelas gravadoras. Raul Seixas, que hoje coleciona covers e “sósias” pelo Brasil como seu ídolo de infância, foi um sucesso autêntico, fazendo tudo que todos diziam ser errado, ao ponto de criar inimizades no meio artístico. É um marco inexorável da música brasileira, e o documentário é obrigatório para entendê-lo.

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